terça-feira, 29 de janeiro de 2008

O mito do amor romântico e a divisão sexual do trabalho doméstico


Há amor que dure à divisão do trabalho doméstico? Bem, se me permitem responder, é claro que há...isso até que ao homem se demande os afazeres domésticos. Nesse momento o príncipe muitas vezes (a maioria) vira sapo! Se o casal é estruturado e tem grana, o trabalho certamente estará com outra mulher (será que é à toa? Coincidência?) e tudo pode até ficar na paz (pelo menos nesse aspecto). Assim como Roberto Machado disse estar se curando do cristianismo (achei o máximo ele dizer isso!), penso que cotidianamente me curo do machismo. Por que estou dizendo isso? Porque já dei provas suficientes do quanto fui contagiada pelo mito do amor romântico – termo brilhantemente cunhado por Jurandir Freire Costa. Encontrar um príncipe, casar e ser feliz para sempre! Ai, ai, ai, já vivi grandes (porém poucos) lutos por pensar assim e por carregar um sentimento absolutamente louco de culpa por querer que meu príncipe dividisse as tarefas domésticas comigo. Mesmo com culpa, não abri mão disso e, então, de princesa virei uma bruxa (do mal) e perdi o... perdi o sapo (príncipe nada!), e levei uma gaia (não a ciência), claro, com uma princesa. Lá se foi ele. A sacola de cuecas que ele deixou na área de serviço chegou alguns dias depois na casa de quem as lavaria. Eu mandei, jamais pensei em lavá-las, mas era o fim. Eu mandei nossas fotografias e o resto de suas roupas, claro, arrancando os cabelos (quase que literalmente!). Mas um dia o luto acaba, a fila anda, e isso aconteceu comigo. A culpa, mandei para o espaço e disse: vão catar coquinho os príncipes, ou é com divisão do trabalho doméstico (divisão mesmo) ou não é! Claro, não foi durante um bom tempo. Cada um na sua. Mas como já prevê o complexo filosófico pós-estruturalista, nossas ilusões são sempre substituídas por outras e eu, claro, substituí a ilusão do mito do amor romântico pela possibilidade da concretização do amor que arca com as tarefas domésticas. Acordar junto, viajar, trocar idéias, olhar no olho, sentir o mar, tudo juntinho, eita que delícia! Lavar banheiro, estender a roupa no varal, lavar prato, forrar a cama, enxaguar pano de prato, eita que “uó”! Sabe quem topa isso? Alguém que tem a capacidade de enxergar o mundo de cabeça para baixo, um príncipe às avessas, um Shrek no melhor sentido do termo. Já até posso ver os livros de auto-ajuda e as Marie Claire da vida: “como segurar o seu Shrek”, ou “faça o teste para encontrar um Shrek”, heheheh, besteira!!! Se a prática não é cotidiana e a mudança de paradigma só é possível nas metateorias...sinto dizer, mas de príncipes (ao contrário do que possam convencer a revistas femininas) o mundo vai continuar cheio. A questão é: as princesas vão continuar se conformando com pouco? Coloquei uma piadinha que tem a ver com essas coisas que acabei de dizer. Não sei de quem é (mas não é minha infelizmente). Abraços e boa diversão (porque ninguém é de ferro!).
Conto de Fadas para Mulheres......?
Era uma vez, numa terra muito distante, uma linda princesa, independente e cheia de auto-estima que, enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo estava de acordo com as conformidades ecológicas, se deparou com uma rã. Então, a rã pulou para o seu colo e disse:- Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. Mas, uma bruxa má lançou-me um encanto e eu transformei-me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir lar feliz no teu lindo castelo. A minha mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavarias as minhas roupas, criarias os nossos filhos e viveríamos felizes para sempre...E então, naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã à sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria e pensava: "Nem fo-den-do!".

6 comentários:

Princess Deluxxe disse...

ai, ai, ai...
tem dias em acho q tenhoum shrek em casa. e dias em q ele não passa de um sapo barbudo mal-humorado, ao lado de uma sapa cabeluda tb mal-humorada.
o mito da amor romântico nos destrói, hein? às vezes acho q o superei. talvez pense assim pra me sentir melhor. mas tenho crises cotidianamnete. pq nem tudo é romance. mas sinto muita falta dele...
adoro seus posts!
pena não ter vindo à tempo de votar na enquete. tinha a chance de reponder sim ou não é dar a própria justificativa??
bjosssss
ps. meu blog é uma besteiraiada sem fim perto do seu... fiquei com vergonha de mim mesma...
":)

Anônimo disse...

Hahahaha... adorei a sacola de cuecas suja enviadas...
dá-le Sheila!!!
Oa, o continho é de Luis Fernando Verissimo.
Bjs!!

Nata disse...

Ótimo, amiga!

Sheila Bezerra disse...

Maíra minha querida, adorei o comentário. Acho que essas coisas que colocam na gente, desde a mais tenra idade, demoram a sair...então, de fato, a crise vai continuar com a gente e, talvez, continue para sempre.Assim, vamos de crises em crises, nos enganando ou não...mas, vamos superando. Obrigada pelos elogios...o ego agradece, hehehe. Abraço grande!

Sheila Bezerra disse...

Valeu pelo esclarecimento Kali. Luis Fernando Veríssimo é o cara!
Abraço grande, Sheila.

Sheila Bezerra disse...

Nata, valeu!
Besos!