quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Ser ou não ser (feminista), eis a questão!


Que a nossa sociedade é machista, isso não é novidade! Que há tantas mulheres machistas quanto há homens machistas, isso também não é novidade, que há homens muito sensibilizados para as questões que o feminismo coloca na pauta do dia, isso também não é novidade, agora, ser mais ou menos feminista, isso (pelo menos para mim) é novidade! Estava eu fazendo um curso de especialização em bioética e, até que eu saiba (e outras pessoas também) a única feminista (que se assumia e reivindicava como tal) era eu. Havia uma colega que se interessava pelas questões de GÊNERO, e apenas de gênero, que se aproximou, pediu referências e até algumas dicas. Claro que eu na minha militância (não tinha nada a ver com amizade, ou ser boazinha) queria mais era oferecer o que eu tinha sobre a questão, mas, claro, sob uma perspectiva feminista. E a colega, insistia que queria uma visão de Gênero, para ela “científica” e, portanto (para ela) não feminista. Por que? Ora, porque o feminismo é (ou era) radical demais (ou era eu a radical, vejamos a seguir) e, a ciência, neutra. Ah, faça-me o favor...minha paciência tem limites!!!!
Das três uma, ou a figura conhece (ou conhecia) pouco o feminismo e pesquisas feministas, ou não assimila nada do que leu acerca das infinitas controvérsias em torno da pretensa neutralidade da ciência, ou, o que é mais provável, vive no mundo da lua. Mas não acabou por aí..., reencontro essa figura numa disciplina intitulada Epistemologia Feminista, e não é que a dita cuja agora (e num contexto muito propício) se diz feminista?!. Claro que quando ouvi isso tive que me espantar e, claro, não podia deixar de observar. Então ela me disse: “Eu sempre fui feminista, só não tinha tanta base quanto você e também achava suas posições muito radicais”. Ah, de novo, tive que respirar fundo!!!! Queria que ela conversasse com Margarida, ou com qualquer mulher do sindicato das empregadas domésticas, ou, sei lá, qualquer mulher do Fórum de Mulheres de Pernambuco. Quem sabe ela teria outra visão do feminismo para além de mim, e percebesse que não dá para ser, mais ou menos feminista. Ou você tem capacidade de se enxergar no mundo dentro das relações desiguais de poder e percebe a categoria gênero como um elemento de apoio para análise, com perspectiva de transformação, como prevê o feminismo, ou você não tem. Ter uma visão política (no âmbito doméstico e público) de tais relações de desigualdade entre homens e mulheres, tentar se curar cotidianamente do machismo (parafraseando Roberto Machado que disse que cotidianamente está se curando do cristianismo) e agir pela transformação de tais relações, isso é ser feminista. Ou se é ou não se é feminista, e priu!

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