segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

O charme da careca de Foucault, o bigode sexy de Nietzsche, a radicalização da Democracia e o dedo em riste


Vamos por partes e pelo fim. Tod@s devem saber o que é um dedo em riste, mas não necessariamente devem saber o que é um dedo em riste em sua direção. Eu sei! Reagindo a uma provocação sobre normas institucionais e disciplina, ela se voltou para mim, pôs seu dedo em riste em minha direção e defendeu a democracia e as regras/normas defendidas democraticamente pelo coletivo. Eu sei! Ah se sei!!!...uma democracia besta a começar por seu gesto (ai, ai, que eu tô com uma “preguiça” desse povo!), e um coletivo com muito poder para decisão (eu sei, blá, blá, blá...). Por uns instantes o mundo desabou sobre meus pés. Eu admirava aquela feminista, mas a democracia radical (dela) já tava no ‘beleleu” há muito tempo (não fui a primeira e certamente não sou a última) e o meu respeito por ela ficou apenas no que seus escritos inspiraram em mim. Mas o que quer dizer radicalização da democracia? Resumindo, quer dizer que as mulheres, a partir da organização civil do movimento feminista reivindicam o seu espaço enquanto sujeito na esfera política da vida e, para tanto, pressupõem a reinvenção da prática política, inclusive dentro do próprio movimento feminista que, venhamos e convenhamos, é uma escola, faço parte dele, mas é um balaio de gato. Já disse Saffioti (ela pode, não é meu bem!?): “eu não observo solidariedade entre as feministas. É por isso que eu não participo de nenhum movimento feminista”. Bem, independente das atitudes de umas, os dedos em riste de outras, os “pitis” das feministas históricas, das jovens feministas ou das feministas “fósseis” (essa expressão me foi dita por uma feminista “aposentada”: “ah menina, tem até as fósseis” (seria cômico se não fosse trágico!), o que interessa é que há sentido, há verdade, e há legitimidade na reivindicação por uma democracia radical e é na organização das mulheres que esta reivindicação se explicita e, certamente, poderá se concretizar, mas...e quanto ao charme da careca de Foucault e o bigode sexy de Nietzsche, aonde foram parar nessa história? Bem, não falarei da careca de um, nem do bigode do outro (pelo menos por hora), eu vou falar de uma angústia que esses “cabas” me ocasionaram e que tem a ver com o que escrevi até aqui. Foucault em “Nietzsche, a genealogia, a história” disse o seguinte: “A humanidade não progride lentamente, de combate em combate, até uma reciprocidade universal, na qual as regras substituiriam, para sempre a guerra; ela instala cada uma dessas violências em um sistema de regras, e prossegue assim de dominação em dominação”. Putz, isso é forte! Então, acreditar em que? (essa é primeira pergunta que vem). Semana passada postei uma enquete com a seguinte pergunta: “Você concorda que as mulheres no poder seriam diferentes dos homens porque...”. As alternativas foram: a) Concordo. As mulheres são mais cuidadosas com velhos e crianças; b) Concordo. As mulheres são mais inteligentes que os homens; c) Concordo parcialmente. As mulheres possuem as mesmas capacidades, mas não é saudável essencializá-las afirmando que serão diferentes no poder; d) Discordo. As mulheres farão as mesmas coisas que os homens; e) Discordo. As mulheres não têm capacidades para o mundo público. Com essas opções (umas deploráveis por sinal) quis reproduzir o senso comum e, também, claro, provocar. Não dá para pensar num mundo melhor apenas quando as mulheres chegarem ao poder, não dá mesmo. Pensar assim, seria partir do mesmo essencialismo que tem subjugado a mulher e a relegado no mundo do privado. Também seria tampar os olhos para as síndromes dos grandes e pequenos poderes (a que se referia tão bem Saffioti, Foucault também em outras palavras) que acometem tantas mulheres. Assim, não importa quem esteja no poder, se homens ou mulheres, a questão é: “como estar no poder?”, “Fazendo o que?”, “Pensando em que ou quem?”, “Valorizando o que ou quem?”. Dessa forma, até que dá para voltar àquilo que Foucault falou, agora, de coração mais tranqüilo e, até pensar a possibilidade de ser diferente, uma vez que diferente também pode ser o poder que se quer ter. Dá até para sair de uma fase muito, muito, muito, niilista (porque, afinal, é necessário viver para gozar do bom da vida!) e pensar que qualquer uma e qualquer um pode mudar o seu mundo, mesmo que isso não seja (e não é mesmo) tão fácil assim.

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