quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Joana Maranhão e o silêncio dos/as adultos/as


O título do post bem que poderia ser apenas o Silêncio das Crianças, mas para mostrar bem o quanto a nossa sociedade é hipócrita, enfatizei o silêncio das crianças que cresceram e que se sentiram confortáveis nessa lógica adultocêntrica, passiva (não pacífica) e silenciosa em que vivemos. Joana é uma jovem nadadora de 20 anos que, numa atitude de muita coragem, expôs seus traumas mais profundos para uma sociedade muito, mas muito POUCO preparada, para encarar suas mazelas de frente. Frases terríveis podiam (ainda podem) ser vistas desde a semana passada nos comentários das matérias do JC (jornal que li) sobre o assunto. Homens, provavelmente também abusadores, dizendo que a moça só estava querendo se promover, que tinha intenções de prejudicar o náutico (clube em que aconteciam os abusos), que estava inventando o fato, dado que já se passaram alguns anos e por aí vai...sempre assim...

Joana se tratou, teve apoio, acompanhamento, pôde conversar com pessoas de confiança, se tornou uma grande nadadora e isso lhe conferiu uma auta-estima e segurança que lhe permitiu falar, denunciar, avisar: "cuidem de suas crianças!"Ela tentou falar para a mãe na época, mas a mãe não achou que fosse possível, confiava no então treinador, tentou "tapar o sol com a peneira", achou que era muito criança (9 anos) e talvez estivesse confusa. O tempo passou...e ele sempre passa! Se passa bem? Só quem viveu na pele é quem sabe. Joana teve problemas para exercitar sua paixão - a natação, teve problemas de relacionamentos, chorava com certa frequência, teve dificuldades nos relacionamentos afetivos-sexuais, mas não preciso mais ficar falando em Joana. Ela já fez muito!
"Estatísticas afirmam que, nos últimos anos, o número de crianças e adolescentes que sofrem ou sofreram abuso sexual é cada vez maior, no Brasil. Porém, apenas uma minoria denuncia o fato e, um dos motivos disso, é o trauma psicológico acarretado, porque na maioria das vezes a criança é vítima de incesto; ou seja, mantém algum grau de parentesco com o agressor, quando ele não é o próprio pai ou padrasto. Nesses casos, existe ainda o medo de que a denúncia resulte em de retaliações.
A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimam que apenas 2% dos casos de abuso sexual contra crianças, nos casos em que o agressor é parente próximo, chegam a ser denunciados à polícia. Estudo do Unicef revela que, de 2000 até 2005, foram contabilizados 437 casos fatais de violência no lar, causado por agressões físicas. A pesquisa da Abrapia, também analisada no estudo do Unicef, aponta que parentes são responsáveis, em média, por 34,4% dos casos. Quando se trata de abuso sexual, os dados impressionam pela tenra idade das vítimas: 49% das crianças que sofrem esse tipo de violência dentro de suas casas têm entre dois e cinco anos."
Dados obtidos a partir do boletim CRESS SP.

Tão importante quando denunciar o abuso é denunciar quem abusa.
Se desejarem mais informações a respeito, eis alguns sites interessantes:



Um comentário:

Sheila Bezerra disse...

Vi agora que o JC fez uma enquete durante esta semana cuja questão foi "Você já sofreu algum tipo de abuso sexual?". O resultado, pasmem, é que 1244 pessoas votaram, dentre as quais pelo menos 419 disseram SIM. 814 disseram NÃO. E aí?