segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Você tem fome de quê?


Estava eu, em pleno sábado, pensando em fazer algo diferente. Os planos haviam sido mudados, iríamos almoçar em casa...que fazer? Bem, lembrei-me das berinjelas que compramos pensando em fazê-las à parmegiana. Minha mãe disse que eu já havia feito algum dia, mas eu não lembrei e ainda não lembro quando. Bem, estava decidida a fazê-la. Entrei no Google, peguei a receita: mãos à obra. Cozinhar não é meu forte, então, claro, demorou...demorou...mas, valeu a pena. Calma, não, não...definitivamente não estou “puxando a sardinha” para meu lado, hehehe! É que é um prazer enorme saborear um alimento saudável, e proveniente de uma proposta social tão saudável quanto. As berinjelas, assim como as acerolas com as quais fizemos suco, a alface e o tomate-cereja da salada, o coentro e o manjericão do tempero, tudo orgânico! Para sobremesa: mamão, banana ou manga, tudo orgânico! Os ovos utilizados na receita: de galinha de capoeira (ou seja, não confinada, sem intervenção de hormônios). Parece coisa de outro mundo o que estou falando? O problema é que não é. Faz pouco tempo, tomei conhecimento de uma iniciativa de produção de alimentos orgânicos e de base agroecológica/agroflorestal próxima à minha casa, ou seja, agricultura urbana. Desde então venho tentando consumir os produtos de lá, tiram tudo na hora... mas, sem essa alternativa, o que me restava? Restava-me o supermercado e a feirinha da V. que, embora seja bem bonitinha e cheia de frutas e verduras aparentemente interessantes, muito, mas muito provavelmente mesmo, são provenientes de uma produção convencional (made in CEASA), baseada na utilização de agrotóxicos e outros insumos químicos dos quais não tenho a menor idéia. Bem, nesse exato momento me ocorreu um outro problema: as sementes - sobre estas sim, parecemos não ter controle algum. Bem, voltando à experiência da agricultura urbana que está localizada próxima à praça da V., atualmente é gerida por mulheres da própria comunidade, mães de crianças atendidas pelo Lar Fabiano de Cristo ou não, que estão aprendendo diariamente novas técnicas de cultivo, estão aprendendo a lidar com as pessoas, estão elevando sua auto-estima, estão aprendendo a lidar com dinheiro, estão trabalhando o senso de organização coletiva, enfim...estão se sentindo pessoas com dignidade, que produzem e se alimentam (bem) e alimentam suas/seus filhas/os com aquilo que produzem com suas próprias mãos. Cada vez mais estamos distantes dessa realidade tão simples. As crianças, a não ser através de seus livros escolares, quase não podem supor de onde vêm as frutas tão gostosinhas (mas muito pouco em relação às orgânicas) com nomes e cores tão diferentes, artisticamente empacotadas (com plástico-filme) pelos grandes Super- mercados, bem como de onde vem o milho que é a base para seus cornflakes e das suas deliciosas pipocas de microondas e por aí vai. Tenho recebido e-mails a respeito. Daqueles e-mails que fazem muito alarde da história (e têm que fazer mesmo), mas a questão que me ocorre é: não basta as pessoas se sensibilizarem, é necessário que as pessoas tenham opções, conheçam, enfim, são necessárias mais iniciativas, são necessárias políticas públicas voltadas para estímulo à produção agroecológica, às feiras, à divulgação, enfim... e, só tenho percebido qualquer movimentação nesse sentido, quando agricultoras e agricultores se organizam politicamente em torno da reivindicação por tais políticas públicas, só que, ao que me parece, o interesse é tão nosso quanto delas e deles e, no entanto, parece que vamos seguindo a vida ao som de Zeca Pagodinho: “...deixa a vida me levar, vida leva eu...”... leva eu para os transgênicos, leva eu para os agrotóxicos, leva eu para as vacas loucas, leva eu para a minha alienação total, para a doença, para a cura através dos remédios dos grandes laboratórios que, por sinal, produzem os transgênicos, os agrotóxicos...deixa a vida me levar, vida leva eu....
Votem na enquete tá! Besos!

5 comentários:

Anônimo disse...

oi Sheilinha... a pouco tempo li junto a um grupo de jovens uma parábola (O vestido azul), ela falava de uma família em que o pai presenteou a filha com um vestido (de cor azul é claro) e que a partir desse fato, o pai achando que a filha ficou com a beleza mais realçada, resolveu melhorar a sua casa e essa atitude impulsionou toda a comunidade aos poucos de melhorar... bem o fato é que isso é uma parábola, como já disse, e os jovens logo destacaram isso, porém depois de algumas provocações, um jovem disse... "mesmo que essa história seja uma parabóla, ela diz de nossas atitudes perante as coisas... ou seja, como eu quero modificar alguma coisa se eu mesmo não faço nada para mudar?... a transformação têm que começa em mim, pode ser que eu não consiga mudar o mundo, aparentemente, mas se eu mudei o mundo já mudou alguma coisa, mesmo que isso não seja suficiente". Foi uma das mas belas reflexões que escuitei de um jovem... As tuas me fez relembrar isso... um grande beijo!

Anônimo disse...

Sheilinha,
A alguns dias realizando um trabalho com um grupo de jovens levei uma parábola, dada por uma amiga, para refletir com eles o que ela dizia sobre nossas vida... Bem, a parábola era “O vestido azul”, é bem boba (aparentemente), fala de um pai que dá um vestido de cor azul (claro!) a sua filha e quando vê-la vestida, acha que sua filha ficou com a beleza realçada e sente necessidade de modificar sua casa, melhorar a aparência interna e externa e, essa atitude faz com que, aos poucos, a comunidade resolva fazer o mesmo, com isso a situação de todos da comunidade vai modificando para melhor.... “É apenas uma parábola!”... “É muita utopia!”... “É praticamente impossível que isso aconteça!”... Foi o que os/as jovens logo disseram, porém fomos problematizando, questionando até que em determinado momento um jovem disse: “Olha, acho que essa historia nos diz muito... ela se refere a nossas atitudes em relação ao que pensamos do mundo... em relação ao que queremos modificar, ou seja, se eu quero modificar alguma coisa no mundo, tenho que começar comigo, tenho que mudar minha atitude primeiramente, pode ser que não consiga mudar a atitude dos outros... provavelmente, o mundo não vai parecer muito diferente, mas se eu modifiquei o mundo vai esta diferente!”... O que escreveste me fez lembrar desse fato, acho que tem haver com tua atitude. Um beijo no coração!

Sirley

Sheila Bezerra disse...

Caro Sirley,
fico feliz, muito feliz mesmo com as suas palavras. Você nem sabe o quanto... porque "tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu (...) a gente cultiva a mais linda roseira que há, mas eis que chega roda viva...".
Abraço grande e obrigada por suas palavras, Sheila.

Edlúcia disse...

Sheilinha, seu blog é de utilidade pública. Adorei saber sobre esta produção de orgânicos, na Várzea, pertinho de casa. Acho um absurdo os preços abusivos dos orgânicos no supermercado (sem garantia de procedência), quando o custo de produção é menor. Refletir sobre o que comemos (afinal, somos, também, o que comemos), é deveras importante, principalmente pra quem tem filho, como eu, que não quero envenená-lo ao alimentá-lo. Valeu pela dica e pela preocupação! Grande abraço!

Servidora PMLF disse...

Oi Sheila!
Poxa,fiquei um tempo sem dar uma olhada no seu blog e não votei na enquete sobre alimentação...
mas queria deixar aqui registrado que sim, parte do que como eu sei de onde vem! do quintal aqui em casa, onde temos árvores frutíferas, e uma pequena horta. O lixo daqui é reciclado e os dejetos orgânicos voltam para adubar a terra.
Amei saber da produção de alimentos orgânicos aí na Várzea!
Beijão