sábado, 9 de fevereiro de 2008

"Minha mãe é hetero e eu a aceito" - Parte 2


Tenho uma colega que, já percebi, não gosta de comentar alguns do meus posts na própria página do blog, mas que prefere comentá-los via msn. Uma coisa mais discreta, eu diria...embora o desejo de quem tem um blog (imagino) é ver sua página cheia de comentários...mas, vamos lá. Ela leu meu último post e lançou uma questão muito interessante que, embora eu não tenha uma opinião fechada a respeito, gostaria de lançá-la aqui. Ela disse mais ou menos assim: acho que o movimento LGBTT (yz, hehheh) tem se afirmado assim, pela negação da heterossexualidade. Ou seja, a heterossexualidade continua sendo o centro e o que não é “hetero” continua referenciando-se no que é, ou seja, acaba que reafirma o “heterocentrismo”. Ela falou inclusive da sigla que, embora tenha quase todas as letras do alfabeto (observação minha), não aglutina quem é hetero. Achei interessante seu comentário, nunca havia pensado isso. Na mesma hora lhe respondi, no impulso da conversa, que não acho que seja sempre assim. Acho que gays, lésbicas, transexuais, transgêneros e quem quiser, têm mais se assumido pelo que são (pelo menos muitos/as que conheço), do que propriamente pela negação, mas sim, claro, há quem se afirme pela negação (e estava implícito na minha fala que isso era problema). De lá pra cá, pensei mais sobre o assunto e me dei conta de uma coisa: qual seria o problema de homossexuais e outras categorias se afirmarem pela negação da heterossexualidade? De repente, não vi implicação política, filosófica, existencial, nenhuma para além daquelas que já estão postas na mesa (será que estou sendo simplista?). Por quê? Porque é isso, de fato. São homossexuais, são bi, são outras formas de vivenciar a sexualidade, não são heterossexuais. A implicação da afirmação da identidade pela negação dessa heterossexualidade compulsória está na base, mas nem de longe se torna um problema como vem sendo para afirmação do ser Mulher, da identidade desse sujeito do feminismo. O Outro, em relação aos/às homossexuais, é aquele/a que ama, sente desejo, e prazer com pessoas do sexo oposto. E o Outro em relação aos/às heterossexuais é aquele/a que ama, sente desejo e prazer com pessoas do mesmo sexo. São diferentes, e não há nenhuma implicação essencialista (ou, pelo menos, não consegui enxergar) nessa coisa. Não sei... para mim a questão deixou de ser problema. Não sei se é porque essa relação do UM e do OUTRO no tocante às mulheres e homens me deixa com nós cegos na cabeça, o que é bem provável, mas, penso eu, que embora a heterossexualidade ainda seja a “referência”, as “outras” categorias têm se afirmado por si mesmas, mesmo que (e é importante) para isso neguem o que não são. Não consigo pensar em nossas relações (qualquer uma) que não sejam assim – relacionais, processuais - uma afirmação pressupondo uma negação e vice-versa, não é mesmo?. Bem, me desculpem se falei besteira. Arco com os ônus de pensar em “voz alta”, aceito críticas...podem ser por msn, e-mail..qualquer coisa...

Um comentário:

Marcia Moraes disse...

Sheilinha! Quando eu vi que vc tinha um blog, corri para ver e confirmei o que pensava: ele é lindo como vc!
Em relação a tua amiga posso entender vcs duas. Recentemente, comecei a trabalhar para uma Associação que combate a Aids. No meu grupo, sou unica casada e não francofônica. A principio,divertir-me com os meus colegas poderiam pensar de mim. Cheguei para um deles q eu pensei que fosse homo e peguntei se ele era ou não. Ele respondeu que não. Dai, expliquei q tinha uma melhor amiga bi e q durante mt tempo tive e tenho uma bissexualidade virtual. Tive que sentir tb o preconceito, pois não estava nem ai para o que os outros podiam dizer. Até hj pensam que sou isto ou aquilo. Creio que pessoas como eu, com toda sua heterosexualidade e freqüentadora de bi e adjacências na vida cotidiana gostariam de se ver representadas neste movimento. Afinal, diversidade se faz com tolerância. A sexualidade feminina como vc mesma defende vai muito mais além. Sou uma mulher negra, mas antes de mais nada sou mulher e minha luta contra conta qualquer forma de discriminação e de poder começa em casa. Quando coloco meu marido branquinho heterosexual europeu para lavar pratos e limpar a casa para que eu possa estudar em paz. Quando nossos futuros filhos vierão, espero que eles possam dizer: minha mãe é hetero e tem muitos amigos não-heteros nem tão negros e eu aceitei. Tolerância e respeito antes de mais nada nos fazem mais forte e nos tornam mais livres ;)
Abração!